1º. de(s) maio

A profissão de jornalista padece de grave doença e pode morrer se não resistir e, especialmente, lutar pelas liberdades de imprensa e expressão

Os jornalistas, com perdão da figura de linguagem, estão na UTI, em um quase estado de letargia, decorrente da quantidade de pancadarias que levaram nos últimos anos e não apenas, mas, especialmente no Brasil. Nunca antes neste País, em períodos tidos como “democráticos” (entre aspas mesmo), se viu tanta precarização das condições de trabalho e de vida dos trabalhadores de modo geral e dos jornalistas, em específico.

Para além da re(de)forma trabalhista, que retirou direitos consagrados dos trabalhadores, que também abalou toda a estrutura e defesa de suas representações, em especial e respectivamente, nos âmbitos sindical e da Justiça do Trabalho, mais recentemente, o governo federal editou Medida Provisória (que foi aprovada pela Câmara dos Deputados e ainda não pelo Senado) a qual coloca uma pá de cal na regulamentação de várias profissões, inclusive na de jornalistas.

Também afora esses ataques institucionais, e conforme constam dos prontuários (relatórios de entidades nacionais e internacionais), há absurdos cometimentos de violências em todos os sentidos contra os jornalistas e, por conseguinte, às liberdades e à democracia.

O atual governo federal, na figura de seu presidente, é das autoridades públicas que mais cometeu violência verbal a esses profissionais, inclusive, porque incita seguidores à violência – ou ameaça de – contra jornalistas. O próprio presidente da República chegou a dizer que “jornalista é uma espécie em extinção”!

Claro que ele tem trabalhado para que os jornalistas sejam, cada vez mais, desacreditados, precarizados, deixados à míngua. Tem feito apologia às publicações das redes sociais, cujos conteúdos são questionáveis do ponto de vista da veracidade e que não tem qualquer compromisso com a verdade dos fatos, as chamadas notícias falsas, ou, em inglês “fake news”. Não por acaso, pesa sobre sua equipe de governo (o tal gabinete do ódio) a suspeita de produção de conteúdos mentirosos sobre adversários.

É dele a iniciativa de cortar grande parte dos recursos financeiros destinados às publicidades de obrigação da administração pública, as quais se prestam a informar os cidadãos sobre programas e/ou serviços do governo. Não bastasse isso, o pouco de recursos que restou para tanto e nem sempre segue o critério legal, é direcionado a alguns veículos de comunicação com ele alinhados.

No âmbito privado, em relação a entidades de caráter público, desobrigou da publicação os editais, balanços e relatórios financeiros, exatamente, para afetar o caixa das empresas de comunicação onde atuam inúmeros trabalhadores, inclusive jornalistas!

Os jornalistas e as suas representações têm resistido o quanto podem a esse estado de coisas, mas, porque é realmente difícil, não se sabe até quando. É por isso que esta data nos faz refletir ainda mais sobre a situação da saúde da profissão e de seus profissionais, os quais, em nossa opinião, e em sua maioria, estão anestesiados, desmaiados, ante a toda violência que contra ela é cometida.

Pior do que isso é que muitos cidadãos acabam por absorver o ódio dos filhotes da ditadura e reproduzem em textos e, especialmente, no comportamento, atitudes contra a liberdade de imprensa e expressão, temas tão caros ao ser humano!

Apesar desses pesares, 1º de Maio é também dia para retomar a consciência e seguir na luta pela liberdade de imprensa e de expressão, da defesa da profissão e da democracia! Convoco a todos os trabalhadores, especialmente os jornalistas, para retomar o bom combate contra a ditadura da falácia!


Alcimir Antonio do Carmo é jornalista, diretor de sindicalização (e de relações internacionais) no Sindicato dos Jornalistas do Noroeste Paulista – SindJorNP e presidente da direção executiva da Federação dos Jornalistas de Língua Portuguesa – FJLP, entidade que representa jornalistas nos países e comunidades de língua portuguesa.

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