Sua excrescência, o pseudo presidente

“Não será com gritos nem intolerância que o presidente impedirá ou inibirá o trabalho da imprensa no Brasil. Esta, ao contrário dele, seguirá cumprindo o seu papel com serenidade”. Esse foi o comunicado lido pelo jornalista William Bonner na edição do Jornal Nacional do dia 21 de junho de 2021 em solidariedade à jornalista Laurene Santos, repórter da TV Vanguarda, afiliada da Rede Globo de Televisão, em nota de repúdio assinada por ambas as emissoras em manifestação ao péssimo tratamento do presidente da República para com a imprensa e em especial a essa repórter.

A CNN, televisão de canal fechado e que recebeu ofensas do presidente durante esse episódio, no programa ‘CNN 360’, pela jornalista Daniela Lima em nome dessa emissora, destacou que o presidente da República insiste em propagar dados falsos e os constantes insultos e desrespeito para com a imprensa e seus profissionais. E assim afirmou a apresentadora: “É essa escalada do presidente contra a imprensa, contra a jornalista da TV Globo, que a gente repudia”.

Esse triste episódio, aliás mais um em relação a já registrada violência verbal contra jornalistas, aconteceu na última segunda-feira, durante a visita que fez na base aérea de Guaratinguetá (cidade da região de São José dos Campos, interior de São Paulo) para a cerimônia de formatura de novos sargentos da Aeronáutica.

De se registrar que, logo na chegada ao local do evento e conforme vídeo postado em canais de redes sociais de seguidores, o presidente (chefe de estado e governo) recebeu de alguns dos manifestantes impropérios verbais como genocida e palhaço – o que certamente o irritou, além dos questionamentos dos repórteres sobre o péssimo momento pelo qual passa o Brasil com a pandemia Covid-19, que já vitimou mais de 500 mil brasileiros com suas mortes.

A reação da população, dentre outras manifestações, é a série de protestos que pede o impeachment do presidente sem partido, sem educação e cada vez mais sem noção e que neste caso e durante a rápida entrevista, procedeu a ataques contra as emissoras, especialmente a TV Globo e à CNN e aos seus profissionais, mas, comumente, tem insultado a todos os jornalistas que lhe perguntam sobre temas os quais, pelo visto, o desagradam.

Nessa visita a Guaratinguetá, ao ser lembrado pela repórter da TV Vanguarda (Globo) de que havia sido multado pelo Governo de São Paulo por não ter usado máscara recomendada à proteção própria e de outros que dele se aproximaram em um desfile de motocicletas entre São Paulo e Jundiaí, denominada ‘motociata’ no dia 12, quando ia receber a questão sobre o por que de ter chegado a Guaratinguetá sem máscara, já interrompeu e disse: “Eu estava com capacete balístico a prova de 762. Então, vou ser multado toda vez que andar de moto por aí? Porque eu sou alvo de canalhas do Brasil”,. Nem os seus assessores colocados à sua retaguarda escaparam do mau humor e tomaram e receberam a ‘educada’ manifestação: “Dá pra calar a boca aí atrás, por favor?”

À CNN, o presidente lembrou com ironia que o repórter dessa emissora foi alvo de manifestantes que defendem seu governo e que procederam a disparos de fogos e artifício e que mesmo assim o teria elogiado durante a cobertura que fez de um evento realizado recentemente, mas, então, e ao ouvir da repórter da TV Vanguarda/Globo, o questionamento de por que não havia chegado com máscara de segurança, respondeu:

“Eu chego como quiser, onde eu quiser, eu cuido da minha vida. Se você não quiser usar máscara, você não usa.” E na sequência, e para mais uma vez, encerrar a entrevista: “Vocês acham que vou me consultar com o Bonner ou com a Míriam Leitão sobre esse assunto? Parem de tocar no assunto”, disse e, retirando a máscara, emendou: “Me botem no Jornal Nacional agora. Vai botar agora? Estou sem máscara em Guaratinguetá. Está feliz agora? Você está feliz agora?”

“Essa Globo é uma merda de imprensa. Vocês são uma porcaria de imprensa. Cala a boca, vocês são uns canalhas. Vocês fazem um jornalismo canalha, canalha, que não ajuda em nada. Vocês não ajudam em nada. Vocês destroem a família brasileira, destroem a religião brasileira. Vocês não prestam.” E finalizou: “A Rede Globo não presta. É um péssimo órgão de informação. Se você não assiste à Globo, você não tem informação. Se você assiste, está desinformado. Você tinha que ter vergonha na cara por prestar um serviço porco desse que você faz na Rede Globo. Obrigado!”.

As entidades de defesa dos jornalistas e dos profissionais da imprensa como a Federação Nacional dos Jornalistas – a FENAJ e Associação Brasileira de Imprensa e a internacional, dos jornalistas lusófonos, Federação dos Jornalistas de Língua Portuguesa têm se manifestado em defesa da categoria, contra a violência verbal e moral. Um relatório da Fenaj registra os ataques do presidente e desse governo contra os profissionais, inclusive as ações judiciais – como forma de censura.

Inúmeras entidades da sociedade civil no Brasil e pelo mundo se manifestam desde sempre em oposição a esse tipo de manifestação que podem ser considerada como excrescência (no sentido figurado do termo: em demasia, excesso, coisa que desiquilibra a harmonia de um todo) e que jamais devia ser pronunciada por qualquer que seja a pessoa, especialmente por um presidente ou, neste caso, um pseudo porque parece ser irreal, aliás, surreal.

Alcimir Antonio do Carmo, é jornalista graduado pela Unesp, pós-graduado em jornalismo internacional pela ESJ Porto/Portugal e presidente da Federação dos Jornalistas de Língua Portuguesa e do Sindicato dos Jornalistas do Noroeste Paulista.

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