Governo de Cabo Verde exonera acusado de assédio a jornalista; denúncias geraram repúdio do SindJorNP e da FJLP

Nesta quinta-feira, 16, um dia depois da demissão do jornalista e sindicalista Geremias Furtado, o Governo de Cabo Verde, na África, exonerou o administrador único da agência estatal de notícias, a Inforpress. José Vaz Furtado era acusado de perseguir profissionais de comunicação, entre os quais Geremias Furtado, presidente da Associação Sindical dos Jornalistas de Cabo Verde (AJOC).

As denúncias de violação do direito de exercício profissional foram recebidas por várias instituições que defendem a liberdade de imprensa e direitos humanos, entre as quais o SindJorNP e a Federação dos Jornalistas de Língua Portuguesa (FJLP).

Para o presidente do sindicato e da FLJP, Alcimir Antonio do Carmo, o governo africano agiu corretamente, pondo fim a uma série de ataques covardes e que são passíveis de processos judiciais.

“Nosso colega Geremias sofreu muito, mas em momento algum se calou. Lutou bravamente e o Governo de Cabo Verde tirou do cargo quem usava do poder para praticar assédio moral, um crime que deve ser punido exemplarmente em qualquer lugar do mundo”, afirma.

Carmo ressalta que o SindJorNP e a FLJP vinham acompanhando com preocupação o caso de Geremias. “Diante da escalada da violência contra jornalistas no Brasil e em vários países onde a democracia está ameaçada a situação de Geremias era preocupante, pois retrata uma escalada odiosa contra a nossa categoria. Felizmente, pelo menos dessa vez, o desfecho caminha para ser positivo. Vamos continuar atentos, para que não haja retaliações ao colega Geremias”, frisa.

APELO

Em um dos pedidos de ajuda enviados ao sindicato e federação, Geremias relatou o drama vivido por causa do assédio moral.

Segue o relato na íntegra, escrito na língua portuguesa em vigor em Cabo Verde:

“Desde que liderei, no início de 2022, enquanto presidente da Associação Sindical dos Jornalistas de Cabo Verde, manifestações no país contra o que consideramos ser a perseguição de dois jornalistas e dois jornais, por terem divulgado elementos de um processo em o segredo de justiça, fui várias vezes chamado ao gabinete do administrador único da Agência de Notícias de Cabo Verde – Inforpress para fazer ameaças de forma a deixar as coisas como estão. Mas nunca cedi e sempre mostrei que estava cumprindo minhas obrigações como sindicalista. Digo também que não tive medo, porque acreditava que em Cabo Verde havia respeito pelas liberdades.

Mas, com o tempo, ele, que desde que chegou à Inforpress acedeu a todas as redes sociais, começou a envolver-se na minha forma de trabalhar, na função de coordenador de redes sociais. Disse que eu não tinha tempo, que postava mal, que fazia mal o meu trabalho, entre outras coisas. A situação tornando-se insuportável, registrei uma reclamação na redação.

De repente, recebi no mesmo dia um e-mail dele me informando do fim da minha comissão como Gestor de Redes Sociais, em pura retaliação, pelo fato de eu tê-lo denunciado. Então levei o assunto à Autoridade Reguladora da Comunicação.

No entanto, continuo sendo vítima de retaliação. Ele me manda dizer que tem meu contrato na mesa e que não vai renovar meu contrato de trabalho, quando eu renovar meu emprego pela quarta vez em maio.

Além disso, para minha surpresa, descubro que nenhuma parte do subisidio de coordenação das redes sociais me foi pago, considerando que, embora eu considere ilegal, recebi o final da comissão no dia 9 de janeiro, portanto, deveria receber até esta data, o que não aconteceu.

Além disso, o administrador me colocou em uma situação humilhante ao decidir rescindir minha comissão sem aviso prévio, para que eu pudesse organizar minha situação financeira. Enviei um e-mail ao administrador, conhecendo o único administrador, mas fui ignorado.

Entretanto, hoje sou surpreendido com mais um acto de perseguição do Administrador Único da Inforpress contra a minha pessoa, que mandou uma carta de demissão”.

COMUNICADO DO GOVERNO DE CABO VERDE

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    1. COMENTARIO TESTE DO WEBMASTER

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